Ela conectou o útil ao agradável. Fez um favor ao meio ambiente, transformando pneus usados em floreiras, embelezou o jardim de casa e montou um paisagismo de arrancar elogios do outro lado da via
O céu azul sem nenhum pinguinho de algodão de nuvem e a temperatura de 29 graus em plenas dez horas da manhã de um dia de fevereiro no verão brasileiro. Uma brisa leve balança os fios de cabelo devagarinho. No alto, um gavião observa a movimentação da rua da cidade com os pés travados em fios de energia elétrica. Enquanto este cenário se desenha, em chão firme borboletas de diversos formatos e nuances de cores, abelhas em busca de néctar, beija-flores contentes e pássaros de outras espécies batem as asas em seus passeio e pousam sobre as pétalas das flores de cor laranja vibrante do jardim de uma simpática senhora de cabelos bem branquinhos segurados por uma tiara, regata laranja e bermuda estampada de flores rosas, brinquinhos com silhueta de flor e chinelos de tiras, o “outfit” ideal para um calor escaldante como tem feito neste começo de ano em Lages. As pessoas acostumadas com temperaturas negativas sofrem ao “derreter” e é só o que se comenta: Como escapar do Sol impiedoso para achar uma sombra disputada.
A senhorinha é a dona Nair, uma bocainense lageana de coração, apaixonada pela dádiva da vida, pelas plantas e pelo esposo, com quem completa Bodas de Ouro em 8 de outubro de 2025, o seu amado Moacir. Sim, são 50 anos ao lado da mesma pessoa. Esta união rendeu quatro frutos. E pasmem, foi ele qual lembrou da data, contrariando a afirmação agora quase que absoluta e não mais totalmente absoluta, de que memorizar datas comemorativas não é o forte do gênero masculino.
Com direito a todas as pompas, o matrimônio foi realizado na Igreja Nossa Senhora Aparecida do Navio, com as bênçãos de Frei Silvério, bem como a solenidade de casamento civil.
Aos 73 anos, Nair Ribeiro esbanja saúde e bom humor e tem sorrisos de sobra para distribuir. Perto dela, ninguém fica carrancudo. É risada para lá e para cá. Ela é envolvente, carismática, acolhedora, “faceira” e tem uma pá de lições de vida para compartilhar. Nascida em um sítio de parentes, na localidade Canoas, Bocaina do Sul, Nair é a típica mãe de família: Quer agradar, fazer você se sentir à vontade, sem cerimônia ou formalidades.
Por volta dos 22 anos decidiu juntar sua história com a do esposo, Moacir Ribeiro, hoje com 78 anos. Em par, construíram um lar e partiram dali para escrever o livro da vida a dois. Tiveram seus quatro filhos - duas moças e dois rapazes. Um dos garotos segue seu caminho no plano espiritual. O filho Moair mora em Lages, e as duas filhas, Dilene e Michele, residem em Joinville, Norte de Santa Catarina. São cinco netos, dos quais, três gurias e dois rapazes. O mais experiente tem 25 anos, alfaiate em São Paulo. A mais nova tem 15 anos, e mora em Joinville.
Nair e Moacir vivem em férias constantes. Ambos são aposentados. Ele, com uma vida dedicada aos ofícios de carpinteiro e mestre de obras ao levar o sustento para casa, e ela, concentrando seu amor em formar os filhos e em cuidar dos espaços da família.
Caprichosa e verdadeiramente encantada por plantas, com um cantinho especial de honra reservado para as flores em seu coração, dona Nair tem uma única agenda diária em sua rotina: Não ter agenda. Não ter obrigações. Isto mesmo, seu único compromisso de todos os dias é passar ao lado do seu esposo, assistindo suas atrações preferidas nos canais tradicionais de TV e vídeos na Internet.
A organização da casa é impecável. Parece uma casa de bonecas de madeira. Tudo em seu devido lugar. Enfeites por todos os lados. Itens de flor sobre os móveis. Quadros nas paredes. Paninhos decorativos sobre a mesa. Bem casa de vovó mesmo.
Estão neste endereço há 12 anos, quando se mudaram da primeira habitação do casal, no bairro São Luiz. No Guarujá iniciaram tudo do zero. Apenas tinham o terreno, e muita, mas muita vontade de permanecerem em um relacionamento saudável e nunca mais se desgrudarem. E assim foi.
O amor pela beleza das coisas vai além da fechadura da porta. Está no quintal, extremamente arborizado e onde passa suas tardes conversando com o seu eterno namorado, sentados em banquinhos de madeira. Samambaia, espada de São Jorge, se harmonizam com artesanatos ornamentais de jardim de papagaios e cata-vento. Pensa que acaba por aí?
A exuberância no pátio de casa pode ser confundida com exagero. E que seja. A floresta da dona Nair tem ar puro, sombra, aconchego, colo de mãe. São árvores frutíferas grandes, plantadas pelo próprio casal, desde quando ocuparam os cômodos da casa nova pela primeira vez. Pés de guabiroba, amora, moranguinho e cortiça, e flores Onze-Horas.
Ao ultrapassar os portões marrons, dona Nair inventou de cultivar plantas em pneus reaproveitados e pintados de branco do outro lado da rua Bento Antunes, no bairro Guarujá, em frente a sua residência. Guarujá significa "abertura de um lado a outro" e foi exatamente isto que dona Nair fez: Uniu os dois jardins, o da área interna dos muros e o da externa de casa.
Suas plantas dividem lugar com árvores plantadas pela vizinha Luciana e com outras flores em pneus plantadas por outra vizinha. Um jardim a céu aberto que chama a atenção pelo colorido e pela iniciativa ecologicamente correta de dar nova função a um objeto descartado. Dona Nair é fã da sustentabilidade.
Dentro dos pneus, várias surpresas. Exemplares de capim-cidreira, as famosas flores laranjas, zinnia peruviana e até lindos tomates bem vermelhinhos. “É a chegada da casa da gente. Nós cuidamos o tempo todo. Plantamos o ano inteiro. As pessoas passam, olham, comentam, acham bonito. E se os outros acham bonito, a gente também acha. Imagina se nós moradores não fizéssemos a manutenção da própria casa, como seria?”
Mas, e de onde surgiu todo esse fascínio por plantas flores? “Não foi da minha mãe, nem do pai, nem de ninguém da família. É que eu sempre gostei de cuidar de plantas dentro de casa, mas não dava certo. Não vingava, aí eu arrisquei plantar aqui fora e não é que deu joia? Agora até a samambaia eu cuido na parte externa”, confessa a querida senhorinha, aliando os cuidados com as plantas em qualquer uma das quatro estações do ano - primavera, verão, outono e inverno, ao trabalho semanal de recolher materiais deixados na calçada e do outro lado da rua, pavimentada há alguns anos pela prefeitura, como papéis de bala e bombons, embalagens de picolé, latas de refrigerante e cerveja e garrafas, e à atividade de varrer e coletar ciscos de poeira e sujeiras miúdas.
Seu Moacir acostumou com as predileções da amada e é auxiliar fiel e leal nas lidas. “A gente tem de ter amor pelas coisas. Eu ajudo no que posso. Aprendi a gostar também.” O segredo para cinco décadas desta ligação em convergência sem fim? “O respeito, ah, o respeito. Eu quero muito bem ela. Ah, o amor é essencial para uma relação se manter e ter futuro”, suspira seu Moacir, enquanto olha para os olhos da esposa.
Ela reitera o respeito como um dos ingredientes para o sucesso desta receita. Companheirismo, cumplicidade, fraternidade, carinho, visão de planos em comum. “Nós dois somos criativos dentro do nosso mundo para nos entreter. Um bom tempo lado a lado. Graças a Deus, com saúde e desafios superados. Eu amo esse guri”, suspira dona Nair, se preparando para o feitio do almoço do dia, uma sopa de arroz e frango.
Como esse casal cheio de sinergia passa as hora do dia? Adivinha o que eles fazem? Hoje em dia eles se dão ao luxo do ócio com qualidade. Depois de tanta luta e histórias, atualmente a manhã e tarde são vividas da melhor maneira possível. Sem se largarem um minuto sequer, “curtem” a programação da televisão sentados no sofá em uma sala integrada à cozinha, bem pertinho de uma janela com cortinas de renda brancas e esvoaçantes, e vista panorâmica para os jardins. Refeições divididas e horas preciosas ao ver e comentar as notícias dos jornais, as novelas e os vídeos do YouTube, como as aventuras por estradas no Chile. Uma vida simples e, ao mesmo tempo, glamourosa, com os principais fatores de tranquilidade, pacíficos e satisfação, longe das redes sociais. Uma família completa, que cuida do seu lar, da sua rua, da sua cidade e, por consequência, do seu planeta.
“Nas atitudes de simplicidade estão nossas maiores riquezas. Nossos filhos e netos e a vida que escolhemos são nossa maior herança para Lages, nossa cidade amada.” - Dona Nair.
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Fábio Pavan
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