Uma equipe com profissionais de Itapema visitou a estrutura, buscou a troca de experiências e conheceu o atendimento prestado pela secretaria
A Secretaria Municipal de Políticas para a Mulher de Lages continua a única em Santa Catarina, pioneira em serviços prestados em prol da prevenção, acolhimento e assistência às mulheres que sofrem com a violência doméstica. O êxito deste trabalho, que tem refletido em números positivos para o município, com um número cada vez menor de acolhimentos e intervenções necessárias nos últimos anos, atrai os olhares de outros municípios catarinenses.
Nesta quinta-feira (10), uma equipe multiprofissional de Itapema se deslocou até Lages para conhecer a estrutura e funcionamento da Secretaria. Foram recebidos pela secretária Marli Nascif, representantes do Conselho Municipal da Mulher de Itapema, da Vara Criminal do Juizado Especial de Violência Contra a Mulher, do Instituto Inarru, que luta pelos direitos de mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade e da Rede de Atendimento às Mulheres, pelo CREAS do município. “Gostaríamos muito de estar aqui, pela referência e importância que o município de Lages tem nesta questão de proteção às mulheres. Vamos procurar entender como funciona toda esta estrutura criada e fortalecer o vínculo com a equipe lageana. Queremos avançar e incluir, além das mulheres, também pessoas trans nos atendimentos”, comentam Rosilda Portela Rocha, do Conselho da Mulher de Itapema e Yohana Frainer, da Vara Criminal.
A Secretaria de Políticas para a Mulher tem quase oito anos de criação e presta serviços de execução direta para mulheres em situação de violência no âmbito do Município de Lages. “Ficamos muito felizes e satisfeitos pelo trabalho executado até agora. Já recebemos outros municípios que têm Lages como referência. A região serrana contava com números elevados de crimes contra a mulher e casos de feminicídio. Graças ao trabalho árduo estamos aos poucos mudando esta realidade. Prestamos um atendimento 24 horas por dia, se for necessário. Nestes oito anos conseguimos muitas medidas protetivas, outras situações em que homens foram presos por casos graves de violência contra suas companheiras e internamentos em hospitais. Nossa missão é cuidar das mulheres”, relata a secretária Marli.
Casa de Apoio abriga mulheres em situações graves de violência
Além da sede da Secretaria, a equipe de Itapema também conheceu a casa de acolhimento mantida pela Prefeitura de Lages. Uma ferramenta importante no acolhimento das mulheres vítimas de violência, a Casa de Apoio Rosalina Maria Rodrigues, acolhe as mulheres em situação de risco recorrente das diversas formas de violência doméstica, prestando assistência também aos seus filhos menores de 18 anos.
Atualmente a casa não conta com nenhuma mulher acolhida, o que para a secretária é um dado positivo, visto que é um sinal de que casos de violências extremas estão diminuindo no município. A estrutura está passando por reforma, ampliando sua capacidade de acolhimento, além da construção de um quarto com acessibilidade, exclusivo para o atendimento de idosas que sofrem violência, muitas vezes financeira, por parte de familiares e se encontram em situação de vulnerabilidade.
As mulheres acolhidas podem permanecer na casa de apoio por um período de até seis meses, ou até que sua situação seja amenizada. O acolhimento é feito nas situações mais graves, onde as mulheres não têm onde ficar com seus filhos.
As crianças que permanecem na casa são levadas e buscadas na escola e a estrutura conta com segurança, videomonitoramento e rondas noturnas, além da parceria com a Rede Catarina, da Polícia Militar. “Gostaríamos que não fosse necessária a implantação de casas para abrigar mulheres vítimas de violência, pois o que não deveria existir era a própria violência doméstica. Mas precisamos acolher e encaminhar essas mulheres, que além de todo o atendimento com estrutura básica, também recebe atendimento psicológico para que possam reconstruir suas vidas com a cabeça erguida”, diz Marli.
Desafios e pioneirismo no Estado no acolhimento de mulheres
A secretária Marli Nascif lembra que o início da implantação da Secretaria da Mulher em Lages não foi fácil, mas à medida em que os serviços foram divulgados e as próprias mulheres se sentindo mais seguras em procurar os atendimentos, o número de acolhidas foi crescendo e o trabalho preventivo também surtindo efeito.
Para a secretária, entre os principais desafios está encaminhar mulheres usuárias de drogas, que geralmente não permanecem na casa, além do uso restrito de celulares, para evitar que os parceiros agressores saibam o endereço da casa. “Tivemos muitas situações de perigo em casos em que as próprias mulheres agredidas avisavam seus ex-companheiros sobre a existência do acolhimento e eles tentaram invadir e ameaçar a equipe. Nossa intenção não é separar casais, mas proteger as mulheres vítimas e resolver conflitos graves”, comenta a secretária.
A baixa escolaridade na busca por emprego também está entre as dificuldades enfrentadas. “A independência financeira é muito importante para essas mulheres conseguirem se erguer e começar uma nova vida. Temos uma parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico para que elas tenham prioridade na busca por oportunidades no mercado de trabalho, conforme seu nível de escolaridade”, comenta.
Estrutura adequada e disponível a qualquer mulher que buscar por ajuda
O serviço de Referência Especializado em Atendimento à Mulher em Situação de Violência consiste no atendimento e/ou acompanhamento às mulheres e suas famílias. É realizado por equipe interdisciplinar que conta com assistentes sociais, psicólogas e assessoria jurídica.
O atendimento consiste em orientações, suporte psicológico e encaminhamentos de acordo com o processo decisório da mulher. As formas de acesso aos serviços são através de demanda espontânea, encaminhamentos da rede de atendimento ou da própria comunidade, ou pela busca ativa no caso de denúncias anônimas.
Texto: Aline Tives
Fotos: Fábio Pavan
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