Segundo apurou o autor do livro “História do Monge João Maria”, o jornalista e escritor Augusto Waldrigues, o eremita era um filósofo estóico e por isso não se importava com suas roupas, vestindo-se como os caboclos do sertão. Receitava remédios de ervas, beberagens, emplastos e fazia benzimentos.
Era vegetariano e bebia a água das fontes, junto a elas erguia a sua tenda. Não carregava dinheiro e também não aceitava esmolas, mas recebia de bom grado legumes e frutas, dos quais se alimentava.
Falava vários idiomas, porém procurava ficar longe das cidades, preferindo se aproximar sempre das gentes simples do interior. João Maria acampava sempre em um local alto, próximo a uma fonte d´água.
Teve uma “trajetória de quase meio século” de peregrinação pelo interior dos estados do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. João Maria, quando perguntado de onde era, respondia que viera de muito longe. Era considerado um santo pelo povo humilde do sertão.
Seus conhecimentos e práticas se assemelhavam aos monges budistas. Desenvolvendo o poder da mente teria chegado à levitação, invisibilidade, viagem astral, adivinhação. É bem provável que dominasse também a prática da hipnose, pois são muitos os relatos de que ele aparecia e desaparecia como num passe de mágica.
Certa vez, em conversa com frei Rogério Neuhaus, afirmou ter uma bíblia, de onde tirava suas exortações ao povo. Para a gente humilde e sincera era um profeta, alertando as pessoas a fazer penitência, a orar e ajudar o próximo. Frei Rogério foi ao encontro de João Maria, em dezembro de 1897, em Capão Alto, na casa de José de Bairros (o Vuca), cerca de 20 quilômetros da cidade de Lages.
Nesta ocasião, o monge contou ao frei que nascera no mar e se criara em Buenos Aires; que há dez anos tinha tido um sonho no qual se revelara que ele teria de “caminhar pelo mundo durante 14 anos, sem comer carne nas quartas e sextas-feiras e não pousar na casa de ninguém”.
O frei conta que o povo utilizava as cinzas do fogo de João Maria como “remédio” e o local de seu pouso era cercado e ali plantava-se uma cruz. “Era um homem de seus 50 a 60 anos; estatura média, vestido pobre, mas decentemente”, escreveu Frei Rogério em suas “Reminiscências”.
O eremita teria pousado nos arredores da cidade de Lages, no local da atual Igreja Santa Cruz e bebido água da fonte onde hoje é a Cacimba.
Esteve, conforme relatos orais de antigos moradores, em vários municípios serranos, na época todos pertencentes a Lages. Em Cerro Negro, na Fazenda que pertenceu a Maria Joaquina Alves Batista, existe um pequeno cercado de taipa, na época chamado de Santa Cruz, local de pouso do monge João Maria.
Em Anita Garibaldi, por onde ele também andara, o local é hoje conhecido por “Águas Santas”. E em Cerro Negro existe um lugar conhecido pelo mesmo nome, ponto de peregrinação católica, na Sexta-Feira Santa.
O Fazendeiro e político (ex-prefeito de Lages) Caetano Vieira da Costa teve uma longa conversa com o monge, em sua fazenda no Painel.O encontro entre eles teria ocorrido depois que o fazendeiro tendo conhecimento da passagem do monge pelo Painel, mandou um de seus peões chamá-lo até a fazenda. Ali, João Maria receitou uma “beberagem” feita de “vassourinha” (espécie de carqueja) misturada com cinza do fogo de chão do local de seu próprio pouso, a um peão que estava muito doente, o qual foi completamente curado.
Caetano Costa escreveu, mais tarde, sobre o monge, tendo sido estes escritos fonte de informação e inspiração para que o anitense (de nascimento) Augusto Waldrigues empreendesse, na década de 1950, em Curitiba, a rica pesquisa sobre a vida de João Maria, o “santo” dos sertões.
Texto: Iran Rosa de Moraes
Agora Ficou mais fácil e Rápido Encontrar o que Você Precisa!