São atendidas aproximadamente 350 pessoas por dia e entregues mais de dez mil marmitas mensais de almoços e sopas nutritivas
Todo mundo tem fome, mas nem todo mundo consegue comer. A incerteza quanto ao acesso a alimentos e/ou a qualidade da alimentação comprometida é a realidade de muitas famílias. O conceito de insegurança alimentar ficou mais popular após o início da pandemia e ainda está longe de ser amenizado. A situação se agrava quando chega o inverno, e as baixas temperaturas, chegando a menos de zero grau na Serra Catarinense, exige do corpo mais energia e uma alimentação rica em nutrientes se faz ainda mais necessária.
Receber um prato de comida quentinho e nutritivo significa muito para quem não tem alternativa, trazendo conforto e bem-estar, alimentando o corpo e renovando as esperanças de pessoas tão sofridas.
A Cozinha Comunitária Rolde Romeu Rosar é um desses lugares com esse propósito. Localizada na rua Padre Ludovico Kuck, no bairro Guarujá, é um equipamento público que faz parte da Diretoria de Segurança Alimentar e Nutricional, da Secretaria Municipal de Assistência Social de Lages.
Lá, todas as famílias em situação de vulnerabilidade social têm acesso a duas refeições diárias (almoço e sopa). O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 16h30. O almoço é entregue em forma de marmitas no próprio local, a partir das 10h30, e a sopa ao final da tarde, todos os dias. “A comida é muito gostosa e o atendimento é ótimo. Graças a Deus temos onde matar a fome nas nossas dificuldades”, comenta a senhora Maria Iolinda Melo, que mora sozinha aos 80 anos, no bairro Cristal. Ela é beneficiária da Cozinha Comunitária desde sua inauguração, em 2014.
Mais de dez mil marmitas entregues mensalmente
Segundo a Diretora de Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria de Assistência Social, Beatriz Josefina Paggi, são atendidas aproximadamente 350 pessoas por dia e mais de dez mil marmitas mensais são entregues através da Cozinha Comunitária. No total, estão cadastradas 192 famílias e cerca de 120 estão ativas, com procura diária pelas refeições. Cerca de 60 crianças são atendidas.
São entregues diariamente de 150 a 170 marmitas de almoço e outras 90 com a sopa, no período da tarde. Ressalta-se que as famílias cadastradas para receber o almoço não são as mesmas que recebem a sopa. “Percebemos que durante o inverno aumenta muito a procura pela sopa, chegando ao dobro de pessoas que vem buscar o alimento pronto em outras épocas. Eles trazem seus recipientes e levam a sopa quentinha”, destaca a nutricionista e coordenadora técnica da Cozinha, Juliana Martins.
Também são encaminhadas aproximadamente 90 marmitas diárias para o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), localizado na rua São Joaquim, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Este é outro equipamento da Secretaria de Assistência Social e recebe mais de 50 pessoas por dia para almoço.
Cardápio balanceado garante uma alimentação saudável
A Cozinha Comunitária tem como objetivo minimizar os efeitos da falta de acesso ao alimento. Diante disso, se fez necessária a distribuição de refeições saudáveis para atender como perfil pessoas em situação de vulnerabilidade social e/ou insegurança alimentar e nutricional para minimizar os efeitos da fome, como desnutrição e anemia, permitindo que o maior número de pessoas dessa região tenha acesso a alimentos básicos de qualidade, garantindo a esse público o direito humano à alimentação adequada, assegurada na Constituição Federal.
Devido à falta de acesso a alimentos saudáveis, assim como a falta de conhecimento na busca pelo alimento saudável e o desconhecimento sobre os riscos que acarretam o consumo de alimentos sem cuidado necessário de higiene, pode a população apresentar problemas de saúde.
O cardápio é diferente a cada semana, com diversidade de alimentos, elaborado pela nutricionista responsável, Juliana Martins, com o objetivo de fornecer refeições saudáveis aos usuários.
O arroz e feijão é base para todas as refeições, sendo acrescentadas saladas refogadas, macarronadas, batatas, carnes e farofas coloridas, com pimentão, milho, ervilha e temperos verdes. A padaria municipal fornece o pão, que é entregue junto com cada marmita. Todos os dias chegam uma média de 120 pacotes com dez pães cada, totalizando a distribuição diária de 1.200 pães a população assistida. O Banco de Alimentos da prefeitura também contribui com a doação de hortifrútis.
São utilizados diariamente 12 quilos de feijão, 30 quilos de arroz, 11 quilos de farinha de mandioca e 9 quilos de fubá para abastecer as marmitas. Para reforçar o carboidrato das marmitas são utilizados tubérculos e alimentos da terra, como a batata doce, aipim e a moranga. “Cuidamos muito para que seja uma alimentação com um custo mais baixo, porém nutritiva e que alimente bem, principalmente nas estações mais frias. Às vezes, nos dias com temperaturas muito baixas, no lugar da sopa fazemos a quirera com uma proteína e eles adoram”, conta.
Educação alimentar e inclusão social fazem parte do trabalho
Para além da garantia de acesso a uma refeição saudável e adequada, a Cozinha Comunitária desenvolve atividades de inclusão social produtiva, fortalecimento da ação coletiva e da identidade comunitária e ações de educação alimentar e nutricional.
O serviço dispõe de um pequeno espaço de horta, que recebe os devidos cuidados e manejo na plantação através de alguns beneficiários do serviço e profissionais de forma voluntária, sendo que os temperos são utilizados para o preparo das refeições da Cozinha Comunitária e os beneficiários também podem colher para a utilização em suas residências.
O quadro de funcionários da Cozinha Comunitária é composto por quatro cozinheiras, uma nutricionista, dois auxiliares de serviços gerais, um assistente social, um auxiliar administrativo e um vigia.
Através da parceria com o Governo Federal foi realizada a modernização do espaço. Atualmente a administração da cozinha está sob a responsabilidade integral do Município que disponibiliza todos os recursos para o funcionamento desse equipamento.
São gastos aproximadamente R$30 mil por mês, somente com a parte da alimentação dos beneficiários da Cozinha Comunitária e mais R$25 mil para a alimentação dos usuários do Centro Pop. Além destas despesas, também tem gastos com a manutenção das estruturas e compra de materiais.
Como acessar?
O acesso aos serviços das Cozinhas Comunitárias é universal, contudo o programa e as suas atividades foram idealizadas para o atendimento de indivíduos referenciados nos serviços de assistência social, como os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).
A necessidade deste serviço acentua-se diante de uma porcentagem da população lageana que está situada em bairros da periferia, com a abrangência dos Cras, os quais também encaminham usuários para atendimento no serviço.
Na Cozinha Comunitária de Lages as famílias são encaminhadas principalmente pelo CRAS 4, que atende a região dos bairros Guarujá, Tributo e Pisani e o CRAS 7, da região do bairro São Vicente. O atendimento também pode ser direto na Cozinha. As famílias que buscam por ajuda passam por uma triagem realizada pela Assistente Social, Rosana da Silva, que também realiza visitas domiciliares e verifica a situação de vulnerabilidade social.
As famílias beneficiárias do serviço são cadastradas através de um sistema informatizado, que possibilita obter conhecimento de todas as refeições entregues para a família, visitas domiciliares e encaminhamentos realizados pelo profissional, sendo que estas informações também são compartilhadas com outros serviços que também atendem os beneficiários.
A Cozinha Comunitária também atende diariamente pessoas que necessitam do alimento naquele momento, sendo que posteriormente são realizados os encaminhamentos necessários de cadastramento e avaliação do profissional, uma vez que o serviço prioriza a necessidade alimentar da população diante da situação de vulnerabilidade em que se encontram as famílias.
Texto: Aline Tives
Fotos: Toninho Vieira
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