O Natal está batendo na porta. E na outra semana teremos o Réveillon. Essas celebrações, em que se misturam louças, talheres e sentimentos, acenam duas coisas: que o peru vai pagar o pato e “que o novo, o novo sempre vem” (Belchior, outra vez)
Dezembro está no fim. Em alguns momentos o ano passou rápido; em outros,... era mais fácil chegar 2500 do que chegar o momento de decidir o que deveria ser decidido. Foi um ano atípico, repleto de alternativas. Eleições, Copa do Mundo, questões pessoais, a perda de alguns amigos e parentes, a vida reclamando o que lhe cabe por direito ou por atos de violência.
A primavera se despediu do Hemisfério Sul no dia 21 de dezembro, às 18h48min. Ficaram para trás noites mais longas, mais frias, mais chuvosas, mais tristes. Parecia haver algum tipo de cansaço na natureza, tantas são as agressões diárias. Em contrapartida, o verão promete sol, corpos desnudos, um novo tempo. Não sei se os moradores do Planalto Catarinense estão preparados para essa explosão de cores, sabores e calor, muito calor (em diversos sentidos e direções). Por algum motivo que foge da compreensão universal, as baixas temperaturas fazem sucesso nesta região.
As eleições foram angustiantes e, mesmo depois do resultado proclamado, encontraram resistência por parte de alguns dos derrotados. O país deverá voltar à normalidade em pouco tempo. O ano que se inicia precisa ser sustentado por essa esperança.
As mortes de Luis Alfredo Ribeiro, José Atanásio Borges Pinto, Scheila Ramos Bleyer, Francisco Darci Fernandes, Ademir Bratti, entre outros, abriram lacunas emocionais que só serão preenchidas esporadicamente, quando lembrarmos de algumas das histórias (cômicas, trágicas, comoventes) que eles protagonizaram serra’cima.
A cereja do bolo de 2022 foi a Copa do Mundo. Realizada extraordinariamente nos meses de novembro e dezembro, confirmou, mais uma vez, a participação pífia da equipe que dizem representar o Brasil – mas que defende os interesses de uma meia dúzia de multinacionais e empresários do ramo esportivo. A soberba, as dancinhas, os cabelos coloridos (descoloridos?), os brincos de diamante e os tratamentos dermatológicos não ganharam partidas – mas serviram de manchete para os jornais e as redes de televisão que alimentam o ufanismo e a superficialidade. A maldição do gato (animal sagrado em diversas partes do mundo) também contribuiu para mais esse fracasso retumbante.
Argentina e França fizeram uma final de infarto. E a vitória de “los hermanos” quase encenou uma tragédia grega, tantas foram as emoções e as possibilidades desperdiçadas pelas duas equipes. A voz de Carlos Gardel parecia entoar que “por una cabeza, todas las locuras” seriam possíveis. Felizmente, na batalha entre o croissant e a medialuna, os deuses do ludopédio decidiram que “um tango argentino (...) vai bem melhor que um blues” (como cantava Belchior, em trocadilho polissêmico).
O Natal está batendo na porta. E na outra semana teremos o Réveillon. Essas celebrações, em que se misturam louças, talheres e sentimentos, acenam duas coisas: que o peru vai pagar o pato e “que o novo, o novo sempre vem” (Belchior, outra vez). Ao longe, os cínicos (aqueles que gostam de estragar a festa) lembrarão (entre uma taça e outra de espumante, entre um canapé e uma colher de lentilha), que as mudanças são constantes, mas que, ao mínimo descuido, o futuro tende a retornar ao passado. Todo cuidado é pouco.
Receberemos 2023, junto com o verão, de braços abertos!
Texto: Raul Arruda Filho
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