Crônica de Sábado: Uma crônica de sábado, mas de domingo
15/07/2022 15:45:00
Crônica 15/07/2022 15:45:00
Crônica de Sábado: Uma crônica de sábado, mas de domingo
A frente do Cine Marrocos e Texas Burguer era um desfile de carros sonorizados a equalizador Tojo e piso elétrico – naquela época esses carros tocavam música boa, mas na época quem era antissocial achava tudo ruim, como é hoje em dia
Segunda-feira nublada só os sobreviventes do último final de semana vão para aula. Os sobreviventes e os estudiosos. A gente é de um tempo que as pessoas passavam bilhetinhos para se comunicar com os colegas de sala de aula.
Era dia de falar sobre quem ficou com quem na festa de garagem que rolou no sábado e se teve continuidade no domingo; o domingo de Globo Rural, de ajudar na maionese da mãe, e de tomar refrigerante no único dia da semana para tal. Aliás, sobrava refrigerante depois do almoço de domingo, e, para não escapar o gás, confesse que mentalmente você lembrou que usava colherinha de chá para tampar a garrafa – tão útil como Bombril na antena da TV.
Nos bilhetinhos de segunda a gente combinava o resto da semana, o futebol de sábado e as festas que já começavam na sexta. Num desses bilhetes alguém assim escreveu: “...diz que sexta é para o dia estar mais bonito...” – Ora, qualquer sexta é um dia lindo.
A semana passava rápido para os competentes e o fim de semana passava mais rápido ainda para quem sofria por antecipação. Problema é que nessa época citada dispersamente, todo mundo em idade escolar achava que a vida poderia ser um filme chamado “Curtindo a Vida Adoidado”.
Você lembra de um tempo em que se combinavam as coisas e ninguém faltava ou arrumava desculpas? Hoje, as pessoas marcam algo via áudio de whatsapp e desmarcam desligando o smartphone, simples assim.
Deixa passar sexta e sábado para falarmos de domingo, o domingo em Lages em uma época distante.
Passado mais um episódio de Globo Rural e o almoço, o destino era a matiné do Cine Teatro Marajoara. Para os que personificaram esse período, duas coisas eram fundamentais para ser protagonista das sessões duplas dominicais: grana para a entrada e para as balasxaxá maçã verde, e ter pelo menos dois lugares para sentar em pontos estratégicos, evitando assim os pitos dos lanterninhas que não permitiam as caminhadas circulares durante os filmes.
Essa turma que frequentava as matinés em alguns anos iria para a frente de outro cinema um pouco mais tarde, depois da missa da Catedral. A frente do Cine Marrocos e Texas Burguer era um desfile de carros sonorizados a equalizador Tojo e piso elétrico – naquela época esses carros tocavam música boa, mas na época quem era antissocial achava tudo ruim, como é hoje em dia.
Uma noite de domingo a rua Jorge Lacerda lotou. Não por causa da sessão duplicada de Titanic, mas naquela semana, bilhetes anunciavam a briga do século: representante da turma de populares A versus o representante da turma de playboys B. A lembrança que temos é que alguém voltou para casa de olho roxo.
Quando o filme terminava, quem estava na rua esperava a pessoa que gostava sair, e quem tinha entrado procurava ou evitava alguém das calçadas. Quem tinha já a liberdade de esticar o domingo, o destino era o 900, quem não tinha, ia para casa com a agonia no pescoço de não ter feito as tarefas na sexta-feira. Pena que quando nos tocamos disso, já não existem mais tarefas escolares pra fazer, nem cinema de rua, nem balas xaxá.
Texto: Fabrício Furtado
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