As lembranças descritas aqui têm como ponto de partida o Colégio Diocesano
Para quem não sabe, o Colégio Bom Jesus era chamado de Diocesano. O seu ginásio era chamado de Palácio, e se você quisesse jogar pebolim, sinuca e ping pong, o lugar era dentro da escola, no saudoso Centro Cívico Frei Nicodemos (CEFREN), ou, CAJU (Casa da Juventude).
Nos anos 80 em Lages, algumas referências na cidade pertenciam a figuras humanas: o fliperama do Velhinho, a rifa do Morô, o barzinho do Seu Janes, o time de basquete do Galo, o carrinho de “X” do Luís Santos em frente à praça da Catedral, o piá do Joaquim, e o livro do Licurgo Costa.
Trabalhos escolares naquela época tinham suas magnitudes e algumas excentricidades. Os colegas mais ricos faziam as capas com lápis de cor que proviam de caixas da Faber Castell cento e vinte cores, e poucos arriscavam as pesquisas com as máquinas elétricas de datilografar da propaganda da Sponchiado das transmissões de Jogos Abertos. De toda a forma, quem não tinha Barsa em casa, o jeito era dar um “pernaço” com destino a outro local, a Biblioteca do Tanque.
Sair de casa para pesquisar na biblioteca municipal tinha como ponto principal de preocupação não a possibilidade de ter a bibliografia pesquisada no local, mas a comoção era se o tio do algodão doce estaria lá, e se ia dar tempo de se largar no escorregador mais desafiador do mundo, o do foguete do parquinho do Tanque.
Em muitas caminhadas dessas, é bem certo dizer que poucos sabiam o que aconteceria depois de largar as mochilas nos armarinhos para desbravar a arquitetura icônica da biblioteca. Aliás, os processos de pesquisas começavam com a pergunta: “Tia, tem livro sobre Lages? ”.
A resposta de início, e sempre única, não era verbal. Alguém aparecia com quatro volumes enormes de uma coleção que impactava pelo nome do autor e pelo título, duas sentenças magníficas e de uma força de se fixar na memória: Licurco Costa – O Continente das Lagens.
- Certo, mas qual o tema da pesquisa, meu jovem? História da cidade, famílias, economia, esporte, religião, cultura, comércio, os hotéis, os restaurantes, as pessoas, o cotidiano, os mapas, rádio, TV, cinema, música, maçonaria, as escolas, os franciscanos, o Inter de Lages, o Guarani, os Irmãos Canozzi, os Zago, os Hasse, os Sant’Anna os Ramos, os Letti, o seu Joffre, os tropeiros...?
- Hã...eu queria ver, sabe, se Anita Garibaldi...sabe, né? Surgiu uma conversa na sala de aula que ela é lageana mesmo e não...
- Sim, senta aqui que tem!
Não é possível hoje lembrar a nota do trabalho e o resultado da discussão, ou talvez não seja cauteloso citar.
A capa foi feita com giz de cera e a foto de Anita foi redesenhada em cima de papel manteiga. Depois daquela pesquisa, a gente voltou para saber sobre as outras coisas do continente lageano que aqueles quatro volumes contavam.
Ainda assim, não esquecemos que se arrumava um tempo para escorregar do foguete antes de anoitecer e chegar em casa com o cuidado de não ter sujado o abrigo (que era como a gente chamava o agasalho de escola).
Quando as memorias são assim, do tamanho de um continente, é preciso conta-las.
Texto: Fabrício Hasse Furtado
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