O contato com o mundo digital estimula o cérebro, combate a depressão, evita o isolamento e serve como impulso cognitivo
Nem sempre aquele garotinho de oito anos, atento aos comandos rápidos dos jogos do videogame e às luzes do celular, tem paciência para parar tudo e ensinar o passo a passo da tecnologia para o vovô e a vovó que ainda engatinham no mundo virtual. Os instrutores voluntários do Projeto Orion Conect, desenvolvido pelo Orion Parque tem essa vocação aflorada e paciência, sim, para entender a velocidade com a qual os mais idosos aprendem as coisas depois de certa idade avançada. É o caminho inverso, poder aprender com quem mais viveu e ensinar aquilo que não faz parte da infância e juventude deles.
E a tarde desta terça-feira (6 de agosto) foi dia de comemorar e levantar o diploma de conclusão do curso de inclusão digital gratuito oferecido pelo Orion e Instituto Orion, por parte de pessoas da melhor idade participantes das atividades do Centro de Convivência do Idoso (CCI) Dom João Oneres Marchiori, situado no bairro Várzea, coordenado pela Secretaria da Assistência Social e Habitação. Esta foi a primeira turma de inclusão digital do CCI. Os idosos são levados ao Centro de Inovação por veículo da Secretaria da Assistência Social.
O Projeto Orion Conect é um programa de inovação social de impacto positivo à comunidade, com empoderamento através das tecnologias, novas experiências e descobertas, além da proximidade entre as pessoas, evidenciando o protagonismo e autonomia. De uma turma de 22 idosos, 17 se formaram, com idade entre 55 e 84 anos. Estes alunos frequentaram as aulas nas tardes de terça-feira por 3 a 5 meses em encontros com duas horas de duração. Os dois monitores são voluntários, Luan do Valle Cabral e Luísa Farias de Macedo, acadêmicos do curso superior de Ciências da Computação do Instituto Federal de Santa Catarina (Ifsc). Daqui duas a três semanas deverá ser aberta uma nova turma para idosos contemplados pelo CCI, e há uma fila de espera com 20 pessoas. A prefeitura contratará estagiários para reforçar o time do curso.
Uma segunda turma com 30 alunos está com aulas em andamento às sextas-feiras, com inclusão de idosos da comunidade em geral pelo Conect, em que instrutores são dois estudantes do curso técnico em Informática para a WEB do Ifsc. Então 2019 encerrará com quatro turmas concluídas.
Do ligar ao navegar
A ementa dos conteúdos passou por uma reformulação e tem como assuntos ligar e desligar a máquina; manuseio de teclado; movimentação de mouse e ícones na área de trabalho; digitação; criação de pastas; uso de smartphone e celular; jogos de digitação e online, como tranca e dominó; acesso ao navegador de Internet (portal de notícias), e Dia de Fotos (selfies). Como resultados do curso, a criação de conteúdo e disponibilização de ebook e de um manual. O head de programas e ações do, Raul Guilherme Capistrano Simón, apresentou informações de reflexão: Em 2050, 30% da população do Brasil será idosa; em oito anos haverá aumento de 1000% de usuários da terceira idade conectados à Internet; 80% dos idosos do mundo utilizam o celular, e 79% dos idosos do Brasil não utilizam a rede mundial de computadores.
O contato com o mundo digital estimula o cérebro, combate a depressão, evita o isolamento e serve como impulso cognitivo. “Lançamos um olhar especial às mulheres, crianças e idosos. Faz parte das políticas públicas de desenvolvimento das pessoas. Parabéns a todos vocês pela conquista”, comemora o vice-prefeito, Juliano Polese.
O secretário da Assistência Social, Samuel Ramos, enfatiza que, “foram feitas mais de 90 denúncias de maus-tratos e violações aos direitos dos idosos em 2018. Precisamos acabar com isso e coibir ações. A inclusão digital é uma das ferramentas de maior independência dos idosos”. Já o presidente do Instituto Orion, Valmir Tortelli, reitera em seu discurso: “Nada mais inovador do que a transformação das pessoas.”
O Orion Conect oferta aulas de inclusão digital desde 2017 a partir de uma ideia criada na Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac) e até agora, contando esta turma de terça, já foram formadas 25 pessoas. “Para nós esta parceria com o Orion é extremamente salutar ao possibilitar aos idosos este novo conhecimento de manusear e explorar tanto o computador, quanto o celular, e quando trouxemos esta novidade ficaram animados, pois é uma dificuldade, apesar de parecer tão prático para a maioria das pessoas. A ampliação dos conhecimentos é impagável, não tem preço, é uma bagagem individual que levarão para toda a vida”, avalia a coordenadora do CCI, Ana Paula Jentig dos Santos Garcia.
Cândida e os tutoriais de artesanato - Luan, o professor cheio de afeto
Aos 67 anos, Cândida Luci Oliveira Brito resolveu arriscar um novo desafio na sua vida: Encarar o computador, um monstro que tanto parecia um inimigo, mas que virou amigo. Ela mora no bairro Maria Luiza e era uma das elegantes formandas de terça-feira. Figurinha carimbada dos encontros de idosos há 30 anos, ela não marca bobeira e não perde nenhuma reunião no Centro de Convivência quinzenalmente. Ela divide o lote com seu único filho, que é casado. Em frente moram seus pais, de 92 e 93 anos, de quem cuida atentamente.
Viúva, ela é pensionista e sente saudade dos artesanatos que fazia para incrementar a renda. Então, utilizar a Internet para assistir tutoriais de trabalhos manuais é a sua meta. “Sei fazer crochê, tricô, pintura em tecido, vidro e cerâmica. Fiz curso e pratiquei. Eu havia tido contato com computador há muito tempo, uns 30 anos, num curso. Eu uso mais o celular para atender chamadas. Tenho WhatsApp, mas quase não uso. O curso me ajudou porque eu queria demais aprender a mexer no aparelho de telefone. Adorei fazer aulas, fiquei sentida quando terminou”, pontua a recém-formada, lembrando ter feito amizades e interagido com outras pessoas, saindo de casa para alçar novos voos. “Poder se formar é uma satisfação e uma alegria. Ainda vou ficar bem prática e poder estar perto da esperteza das crianças, dos sobrinhos.”
O instrutor Luan do Valle Cabral veio de Indaiatuba, interior de São Paulo, para fazer faculdade em Lages, no Ifsc. Está na segunda fase e com apenas 17 anos dá um banho de sensibilidade e ao entrar na sala de aula se transforma em um professor acolhedor. “Escolhi Lages porque o Sul é uma região extremamente desenvolvida em educação e a cidade tem um custo de vida tranquilo. Quanto a ser instrutor na inclusão digital, eu ganho horas complementares na faculdade, em torno de 25 entre aulas e reuniões. Pretendo continuar auxiliando nas novas turmas. Tenho carinho e afeto pelos idosos. É uma troca mútua. As pessoas não têm paciência para ensinar tecnologia, a gente dá risada com eles, divide histórias de vida, aprende junto.”, argumenta Luan.
Compareceram ainda à solenidade, em que foi servido um coquetel aos formados, familiares, amigos e convidados, a vice-presidente do Conselho Municipal do Idoso (Comid), Franciele Spolti, e o reitor da Uniplac, Kaio Amarante. A Uniplac e a Federação dos Aposentados de Santa Catarina (Feapesc) firmaram convênio para oferecer 25 cursos na modalidade a distância a mensalidades acessíveis.
Uma vida mais feliz no Centro de Convivência
Quando cada filho vai viver a sua vida, o pai e a mãe, já idosos, precisam procurar opções de qualidade de vida e mais felicidade, ocupar o tempo e se sentir ativados. O Centro de Convivência formula planejamento anual e oferece atividades gratuitas de palestras sobre prevenção em saúde, segurança, ginástica, alongamento, dança terapia, recreação, entre outras, envolvendo órgãos parceiros, como a Secretaria da Educação e o Corpo de Bombeiros. “Eu gosto de tudo lá, onde permaneço das 14h às 17h. Tem lanche e a gente é bem recebido”, pondera Cândida Luci Oliveira Brito.
O serviço funciona de segunda a sexta-feira, está aberto o dia inteiro, mas a programação com os idosos é executada no período vespertino. São cinco grupos englobando um conjunto de bairros, beneficiando mais de 500 idosos cadastrados, sendo que em média 250 estão ativos e assíduos.
Fotos: Toninho Vieira
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