As diversas peças de roupa sobrepostas escondem os pecados gastronômicos que todos cometem nessa época do ano. É difícil resistir. Paçoca de pinhão, sopa de agnoline, churrasco, bolos, frituras, fondue. Uma imensidão de gostosuras
Em tempos olímpicos, as baixas temperaturas no Planalto Serrano estão batendo recordes. A cidade ficou coberta pela neve, esse espetáculo que une encantamento e frio. Várias explicações são possíveis. O desequilíbrio do sistema climático, o inferno astral e a pandemia estão entre as hipóteses mais prováveis. Difícil saber qual delas merece alguma atenção. Talvez nenhuma – ou todas. Mais prático é retirar edredons, cobertores e agasalhos que estavam escondidos dentro dos armários.
Evidentemente, existem diversas alternativas para espantar o frio – quase todas envolvem significativos índices alcoólicos. Como nem só de cachaça (ou graspa ou steinhaeger) vivem os habitantes do Planalto Serrano Catarinense, cabe, nas manhãs do sul do mundo, “abastecer o tanque” (como diria o lageano) com canecas de chocolate quente, chá e café. O pessoal do interior se esquenta com “camargo” (o leite tirado da vaca direto em um copo com café preto e puro).
Nesse clima de congelar pinguim de geladeira, o fogão de lenha poderia ser uma alternativa. Infelizmente, o progresso imobiliário – que substituiu as casas por edifícios – prefere fingir que o ar condicionado e a lareira são boas opções. O problema é que os “aprimoramentos civilizatórios” custam fortunas e poucos podem desfrutar desses benefícios. Então cabe improvisar. É nesses momentos que entra em cena o pelego e o pala (poncho, bichará) ou os sistemas primitivos de calefação: brasas de carvão vegetal dentro de uma bacia. Tudo no estilo “não tem tu, vai tu mesmo”.
As diversas peças de roupa sobrepostas escondem os pecados gastronômicos que todos cometem nessa época do ano. É difícil resistir. Paçoca de pinhão, sopa de agnoline, churrasco, bolos, frituras, fondue. Uma imensidão de gostosuras. Há quem diga que a gula é a irmã malvada do inverno. Sei lá, o perigo se esconde nos lugares mais inesperados. Por isso, o uso de casacos e jaquetas (japona, na linguagem usada em tempo distante), além de camisas de flanela, camisetas, mantas, cachecóis e botas, ajudam na composição de um “look” estiloso, desses que incentivam a imaginação – o calor dos corpos nega prazeres, forja promessas, alimenta sonhos.
No inverno, a vida e o afeto são valorizados. O que incomoda é ter que deixar o calor da cama para ir ao banheiro durante a madrugada. Ou regular a temperatura do chuveiro, na hora do banho. Ou sair de casa pela manhã. Dizem que na Sibéria é pior. Provavelmente é.
O vento que corta a pele e o sol de enganar trouxa costumam se aliar na confusão das tardes que parecem indicar que tudo está voltando ao normal. Por “normal” deve-se entender temperaturas abaixo dos 10° C. Ou seja, quase verão – para ursos polares e cachorros lanudos. Mas, quem se importa?
O que não podemos esquecer é que não existe primavera sem o inverno.
Texto: Raul Arruda Filho
Fotos: Ary Barbosa de Jesus e Pablo Gomes
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