A cor amarela da campanha Setembro Amarelo foi adotada por causa da história que a inspirou. Em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida em seu Ford Mustang 1968 amarelo
Pela primeira vez na história, três gerações brasileiras estão presenciando, juntas, os efeitos de uma pandemia tão forte e perigosa na contemporaneidade. Os hábitos tomados pelas famílias estavam até então dentro da normalidade e, além dos cuidados de proteção física de prevenção ao contágio e transmissão do novo Coronavírus (Covid-19), cuidar da saúde mental também se tornou um exercício diário e instigante. Os ponteiros do relógio parecem estar em slow motion e as pessoas, se questionadas dos medos e metas de 2020, estão convictas de estar sendo um ano difícil de encarar e de ser superado. Sonhos adiados dentro das gavetas, e a nem tão simples missão de sobreviver a um vírus tão próximo e presente, que levou embora familiares, amigos, conhecidos, autoridades e personalidades famosas nacional e internacionalmente. Os noticiários, as notícias, os noticiados.
Economia fragilizada, pessoas cansadas. Empresas sufocadas, empresas falidas, empresas na tentativa da recuperação. A incerteza do futuro, a esperança no futuro. As pessoas se agarrando naquilo que mais acreditam, cada um na sua crença: oração, amuleto, música, respiração profunda, meditação, terapia, livros, desenhos para colorir.
Máscara de proteção no rosto, álcool gel no bolso. Os dois maiores aliados nesta trajetória sem dia e nem hora para acabar. As pessoas estão trancadas em casa sem poder sair para ver pais, mães e avós, acumulando a saudade. Nada de abraço, apenas vídeos chamada e a voz ouvida de longe.
Não é possível mais frequentar locais onde a aglomeração era sinônimo de alegria. Nada de ir a churrascos cheios de gente, confraternizações de aniversários, formaturas, casamentos, chás de bebê, batizados. Nada de viajar como planejado nas férias. As fotos de recordação ficaram para depois. Nada de parques, praças, caminhada ou corrida ao ar livre. Nada de provar roupas e sapatos nas lojas, nada de ficar próximo das pessoas nas filas.
As compras do supermercado devem ser feitas por apenas uma pessoa, nada de passeio. As idas ao supermercado, que antes eram um lazer, atualmente são uma obrigação inadiável, com dia e horário marcados e para ser efetuada em tempo recorde. Quanto menos tempo de exposição, melhor.
Na hora de voltar para casa, desinfetar o carro, tirar calçados, trocar de roupas e esterilizar os alimentos um por um, com álcool em concentração 70%. Nada de ir a bares, lanchonetes, restaurantes e pizzarias do mesmo jeito que antes. Agora, pedidos por aplicativo de celular de delivery.
Casais cuja experiência do isolamento social em casa serviu para unir. Casais cuja aproximação acabou em brigas e separação. Pais e mães de família desempregados. Pais e mães de família com redução de jornada de trabalho, com redução de clientes, com redução de salário. Pais e mães de família em home office. Escolas fechadas, filhos em casa, bagunça, desentendimentos, irritação, choro, estresse, aula on-line. Criança só dentro de casa, sem ver ao amigos e professores. Tédio, tristeza, reflexões.
Todos estes ingredientes, misturados à falta de livre arbítrio imposta pela pandemia e pelos números negativos do pico ascendente das transmissões no Brasil em diferentes semanas e meses há seis meses, e de forma mais direta, em Lages, no mês passado, desencadearam uma série de discussões sobre a sensibilidade psicológica na população, os respingos na qualidade de vida e o respaldo merecido pelas pessoas em suas distintas faixas etárias.
Uma das ferramentas a ser utilizada nesta análise e como contribuição à sociedade neste Setembro Amarelo será a Live a ser transmitida na próxima sexta-feira (18 de setembro), uma conversa sobre valorização da vida e prevenção do suicídio, assunto destacado neste mês de setembro, dedicado especialmente ao tema. Está agendada para as 15h, com o seguinte link de acesso à sala virtual: https://meet.google.com/phb-rhzz-jix. O evento online, de transmissão ao vivo, será aberto a profissionais da área da Saúde de toda a região da Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures).
A Live terá participação da equipe do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) Regional de Lages (já que a instituição é responsável por atender os 18 municípios da Serra Catarinense): Gerente do Cerest, enfermeira Fabiana Medeiros Branco; psicóloga, Maiani Pereira da Rosa de Lins; técnica em Segurança do Trabalho, Angelita Aparecida Ribeiro, e a técnica de enfermagem, Fernanda Daboit.
Falar incansavelmente sobre esta preocupação ajuda, e nem se imagina a grandeza desta dimensão. “O suicídio precisa ser entendido como uma busca da morte como refúgio para uma dor emocional que se torna insuportável para uma pessoa, o que decorre de não saber como pedir ajuda, os meios, os caminhos, e de não conseguir pedir ajuda. Precisamos quebrar o tabu de que falar de suicídio aumenta o risco, ao contrário, temos que prestar a informação clara e correta, sem ‘romantização’, e que do modo correto seja alcançada pelas pessoas. ‘Fazer’ lives faz com que as pessoas entendam este fenômeno e promover espaços de escuta e fala se revela como uma das formas ideais de prevenção e compreensão deste agravo”, justifica a psicóloga do Cerest, Maiani Pereira da Rosa de Lins.
O Setembro Amarelo e a inspiração da cor amarela
Em relação à campanha Setembro Amarelo - Mês de Prevenção ao Suicídio, é organizada nacionalmente desde 2014, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). O Centro de Valorização da Vida (CVV) também é parceiro.
O dia 10 deste mês é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, mas a mobilização acontece durante todo o ano. Durante o mês da campanha Setembro Amarelo, costuma-se iluminar locais públicos com a cor amarela para apelar a maior atenção a este problema do mundo moderno e suas causas.
A cor amarela da campanha foi adotada por causa da história que a inspirou. Em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida em seu Ford Mustang 1968 amarelo, com um tiro. Existe uma hipótese. Mike havia terminado com a namorada pouco tempo antes, e estaria triste. Mas quem o conhecia acreditava que era normal. No entanto, Mike provavelmente sofria de depressão.
Seus amigos e familiares distribuíram, no funeral, 500 cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de “Mustang Mike”, e a mensagem foi se espelhando mundo afora. O carro era um Mustang 68 hardtop, completamente restaurado pelo próprio Mike e pintado na cor amarelo brilhante. Os pais de Mike, Dale Emme e Darlene Emme, iniciaram a campanha do programa de prevenção do suicídio “fita amarela”, ou “yellow ribbon”, em inglês. O Setembro Amarelo tem origem em uma campanha real, organizada por uma fundação chamada Yellow Ribbon (em português, “Fita Amarela”), que foi fundada em 1994.
Dados tristes e alarmantes
A nível de Brasil, mediante dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (MS), de 2011 a 2018, foram notificados 339.730 casos de violências auto provocadas (auto mutilações, tentativas de suicídio, suicídio e ideação suicida). E, deste total de número de casos, 45,4% ocorreram na faixa de 15 a 29 anos. São registrados em torno de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de um milhão no mundo. A cada 45 minutos, um brasileiro morre vítima de suicídio.
Em Lages, de acordo com estatísticas da Vigilância Epidemiológica, departamento da Secretaria Municipal da Saúde, em 2019 o município registrou 171 casos, entre tentativas e consumações. Em 2020, Lages constatou, até o mês de agosto, 109 casos, entre tentativas e atos consumados de suicídio. Não há como estabelecer uma relação segura entre o número de casos e a pandemia, pois não há estudos neste sentido. Entre tentativas de suicídio e atos consumados, a maioria acontece por intoxicação exógena (ingestão de medicamentos).
Aproximadamente 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias. Esta realidade registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens.
Como Vai Você?
O serviço do Centro de Valorização da Vida (CVV) - Como Vai Você? (CVV) trata-se de uma das Organizações Não-Governamentais (ONGs) mais antigas do país. Fundado em São Paulo em 1962, atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio do telefone 188, e também por chat, e-mail e pessoalmente. É membro fundador do Befrienders Worldwide e ativo junto à Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (IASP), Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (Abeps) e outros órgãos internacionais que atuam pela causa.
Cerca de quatro mil voluntários, em mais de 120 postos, prestam serviço voluntário e gratuito 24 horas por dia atualmente, nos 365 dias do ano, aos que querem e precisam conversar sobre seus sentimentos, dores e descobertas, dificuldades e alegrias. As explicações da campanha Setembro Amarelo detalham que de forma sigilosa e sem julgamentos, o voluntário do CVV busca ouvir aquele que liga com profundo respeito, aceitação, confiança e compreensão, valorizando a vida e, consequentemente, prevenindo o suicídio.
Após a implantação do telefone 188, por intermédio de acordo com o Ministério da Saúde (MS), que garantiu gratuidade da tarifação telefônica, foram registrados em torno de três milhões de atendimentos por ano. Todas as formas de acesso podem ser conferidas no site www.cvv.org.br, em que também é possível se informar sobre o Posto CVV mais próximo e, aos interessados, como se tornar um voluntário em favor da vida, afinal, fazer o bem faz bem para quem recebe e para quem o faz.
Texto: Daniele Mendes de Melo
Artes Setembro Amarelo e foto flor: Divulgação
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